Quem não gosta de um elogio? Não estão nossas igrejas tradicionais cheias de inscrições elogiando os generosos doadores dos bancos, dos vitrais ou da imagem de Santa Filomena?
Ora, o Evangelho nos propõe uma atitude que parece inaceitável a uma pessoa esclarecida, hoje em dia: o empregado não deve reclamar
quando, depois de todo o serviço no campo, em vez de ganhar elogio, ele ainda deve servir a janta. Ele é um empregado sem importância; tem de fazer seu serviço, sem discutir.
Jesus nos quer ensinar a estar a serviço do Reino sem darmos importância a nós mesmos. Ele mesmo dará o exemplo disso, apresentando-se, na Última Ceia, como aquele que serve (Lc 22,27).
Isto não rima com a mentalidade calculista e materialista da nossa sociedade, que procura compensação para tudo o que se faz – aliás, compensação superior ao valor daquilo que se faz...
Se levarmos a sério a parábola de Jesus, como então ensinamos aos empregados e operários reivindicarem sempre mais (porque, se não reivindicam, são explorados)? Certamente, Jesus não quer condenar os movimentos de reivindicação. A questão é outra.
Ele quer apontar a dedicação integral no servir. Interesse próprio, lucro, reconhecimento, fama poder... não são do nível do Reino, mas apenas da sobrevivência na sociedade que está aí.
A parábola não serve para recusar as reivindicações de justiça social, mas para declarar impróprios os interesses pessoais no serviço do Reino.
Convém fazer um sério exame de consciência sobre a retidão e a gratuidade de nossas intenções conscientes e de nossas motivações inconscientes.
Na Igreja, tradicional ou progressista, quanta ambição de poder, quanto querer aparecer, quantas compensaçõezinhas!
E mesmo com relação às estruturas da sociedade, a parábola de Jesus hoje nos ensina a não focalizarmos única e exclusivamente as reivindicações.
Estas são importantes, no seu devido tempo e lugar, para garantir a justiça e conseguir as transformações necessárias.
Mais fundamental, porém, na perspectiva de Deus, é criar o espírito de serviço e disponibilidade, que nunca poderá ser pago.
Quem vive no espírito de comunhão nunca achará que está fazendo demais para os outros.
“Somos simples servos”. Antigamente se traduzia: “Somos servos inúteis”.
Tal tradução era psicológica e sociologicamente nefasta, pois fomentava a acomodação, além de contraditória, pois servo inútil não serve...
Servindo com simplicidade, não em função de compensações egoístas, mas em função da fidelidade e da objetividade, somos muito úteis para o projeto de Deus.
Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Gostaria de saber quais traduções de bíblias que são como esta usada no texto, onde não tem o erro de tradução "sou servo inútil" e sim a correta tradução "sou simples servo ou não sou merecedor de elogios, pois já procurei em várias livrarias do gênero e só encontro as com o erro "sou servo inútil".
ResponderExcluirNuma pesquisa rápida, encontrei na Bíblia da Editora Ave Maria: Bíblia Ave Maria
ResponderExcluirLc 17,10 "Somos servos como quaisquer outros..."