Muitos cristãos pensam que Deus obrigou Jesus a morrer para pagar com seu sangue os nossos pecados.
Será que um tal Deus se pode chamar de “pai”? Que significa que Jesus foi obediente até a morte? No relato da paixão de Nosso Senhor (evangelho), Mateus vê o Messias sob o ângulo da
realização do projeto do Pai (cf. 3,15).
Jesus realiza o modelo do Servo-Discípulo, que pede a Deus “um ouvido de discípulo” para proclamar a sua vontade com “boca de profeta” e lhe ser fiel até o fim (1ª leitura).
A fidelidade à missão de Deus é que faz de Jesus o Messias e Salvador. Jesus não veio para “fazer qualquer coisa”, mas para realizar o projeto do Pai.
Ensina-nos a obediência até a morte como instrumento da salvação do mundo (2ª leitura).
Pois quem sabe o que é preciso para salvar o mundo é Deus. Ele sabe que a morte daquele que manifesta seu amor infinito é a resposta suprema ao supremo desafio do mal. Jesus poderia ter sido infiel a Deus, pois era livre. Mas então teria sido infiel a si mesmo, Servo, Discípulo, Messias e Filho. Levou a termo a obra iniciada: pregar e mostrar o amor de Deus – até no dom da própria vida.
O exemplo de Cristo nos ensina o caminho da libertação. Vamos realizar a missão de libertar o mundo pela fidelidade radical à vontade do Pai. Por isso, devemos “prestar-lhe ouvidos”- sentido original de “obediência”. Obedecer não é deserção da liberdade. É unir nossa vontade à vontade do Pai, para realizar seu projeto de amor, e a outras vontades (humanas) que estão no mesmo projeto. E é também dar ouvidos ao grito dos injustiçados, que denuncia o pisoteamento do plano de Deus. Só depois de ter escutado todas essas vozes poderemos ser verdadeiros porta-vozes, profetas, para denunciar e anunciar... Profetismo supõe obediência e contemplação.
Deus não obrigou Jesus a pagar por nós, nem desejou a morte dele. Só desejava que ele fosse seu Filho. Esperava dele a fidelidade a seu plano de amor e que ele agisse conforme este plano. Jesus foi fiel a esta missão até o fim. Quem quis a sua morte não foi Deus, e sim os homens que o rejeitaram.
Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)
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