Correção fraterna
Conforme lemos na 1ª leitura, Deus estabelece o profeta como
“sentinela do povo”. Ele tem de avisar os irmãos a respeito de sua
conduta, para que não se percam. Deus cobrará dele esse serviço! Na
mesma linha, o evangelho nos ensina a prática da “correção fraterna”.
Jesus aconselha isso para a comunidade como tal – não apenas para os
conventos, fora do mundo… Imagine só que em nossas paróquias qualquer
cristão fosse corrigir seu “irmão”ou sua “irmã”!
Jesus ensina, concretamente, o que fazer com o pecador na comunidade
eclesial, não para castigá-lo, mas para ganhá-lo e ele não se perder.
Primeiro, é preciso falar-lhe em particular (mais ou menos como se faz
na confissão); depois, fale-se a ele na presença de algumas testemunhas;
finalmente, se não se corrigir, seja interpelado perante a comunidade. E
se isto não der resultado, aguente ele o afastamento da comunidade.
Ninguém é uma ilha. A vida de nosso irmão nos concerne. Repartimos com
ele nosso espaço vital, nosso trabalho, nosso lazer. Então, somos
também, em parte, responsáveis por seu caminho. Devemos avisar nosso
irmão quando este parece desviar-se (pois ele mesmo nem sempre enxerga).
Isso não é arvorar-se em juiz da vida alheia, mas é serviço fraterno. E
devemos também nos deixar corrigir.
“Ninguém tem algo a ver com a minha vida privada”. Mas será que ela é
tão privada assim? Hoje, religião e moral são muito privatizadas, mas
isso não é necessariamente um progresso! Pode ser uma estratégia do
“Adversário” para diminuir a consciência e a força moral do povo. A fuga
na privacidade torna difícil o trabalho de transformação: as drogas, a
pornografia, a alienação religiosa têm algo a ver com isso.
Devemos ter a coragem de denunciar – com amor e conforme o
procedimento do evangelho – os erros dos irmãos, sejam ricos ou pobres,
poderosos ou subalternos. Aos abastados, devemos lembrar a “hipoteca
social”, a dívida dos ricos com os pobres; aos pobres, importa ensinar
uma solidariedade disciplinada, para construir verdadeira fraternidade e
comunhão nas coisas materiais. E não tenhamos medo de chamar a atenção
para os desvios particulares das pessoas, antes que se tornem um perigo
público. Muitos dos males de nosso país e de nossa Igreja provêm do
encobrimento daquilo que está errado. É como um câncer descoberto tarde
demais…
A 2ª leitura de hoje (Rm 13,8-10) ensina que o amor é o pleno
cumprimento da lei. Uma forma de amar é advertir o irmão. Não é
agradável. Mas, quem disse que o amor deve sempre ser agradável? O
médico que cura uma ferida nem sempre consegue fazer isso sem dor.
Corrigir o irmão – sem se pretender superior a ele – faz parte do “amor
exigente”.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
(fonte: www.franciscanos.org.br)
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