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"Tu és o Messias" - Mc 8,27-35 - 13/09/2015

A primeira parte do nosso texto (vers. 27-30) começa com Jesus a pôr uma dupla questão aos discípulos: o que é que as pessoas dizem d’Ele e o que é que os próprios discípulos pensam d’Ele?
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem apenas que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso.
Na perspectiva dos “homens”, Jesus é apenas um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 28). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade de Jesus, nem a profundidade do seu mistério.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Messias” (vers. 29). Dizer que Jesus é o “Messias” (o Cristo) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva.
A resposta de Pedro estava correcta. No entanto, podia prestar-se a graves equívocos, numa altura em que o título de Messias estava conotado com esperanças político-nacionalistas. Por isso, os discípulos recebem ordens para não falarem disso a ninguém. Era preciso clarificar, depurar e completar a catequese sobre o Messias e a sua missão, para evitar perigosos equívocos. É isso que Jesus vai fazer, logo de seguida.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 31-35), há duas questões. A primeira (vers. 31-33) é a explicação dada pelo próprio Jesus de que o seu messianismo passa pela cruz; a segunda (vers. 34-35) é uma instrução sobre o significado e as exigências de ser discípulo de Jesus.
Jesus começa, portanto, por anunciar que o seu caminho vai passar pelo sofrimento e pela morte na cruz (vers. 31-33). Não é uma previsão arriscada: depois do confronto de Jesus com os líderes judeus e depois que estes rejeitaram de forma absoluta a proposta do Reino, é evidente que o judaísmo medita a eliminação física de Jesus. Jesus tem consciência disso; no entanto, não se demite do projecto do Reino e anuncia que pretende continuar a apresentar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe em direcção ao seu destino de cruz. A oposição de Pedro (e dos discípulos, pois Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade) significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus dirige-se a Pedro com alguma dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam a sua perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio; mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas consequências (de que a cruz é a expressão mais radical).
Ao pedir a Jesus que não embarque nos projectos do Pai, Pedro está a repetir essas tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mc 1,13); por isso, Jesus responde a Pedro: “Vai-te, Satanás”. As palavras de Pedro pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projectos de Deus.
Depois de anunciar o seu destino (que será cumprido, em obediência ao plano do Pai, no dom da própria vida em favor dos homens), Jesus convida os seus discípulos a seguir um percurso semelhante…
Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no caminho do amor, da entrega e do dom da vida.
O que é que significa, exactamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao seu egoísmo e auto-suficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projectos de riqueza, de segurança, de bem estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.
O que é que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-l’O? A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida – de forma total e completa – por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No final desta instrução, Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles devem abraçar a “lógica da cruz”. Convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos, não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) www.dehonianos.org
Um inadiável acerto de contas com a Mãe Terra - Leonardo Boff - 06/09/2015
A encíclica do Papa Francisco sobre “O cuidado da Casa
Comum”(Laudato Si) está sendo vista como a encíclia “verde”semelhantemente como
quando dizemos economia “verde”. Eis aqui um grande equívoco. Ela náo quer ser
apenas “verde” mas propõe a ecologia “integral”.
Na verdade, o Papa deu um salto teórico da maior relevância
ao ir além do ambientalismo verde e pensar a ecologia numa perspectiva
holística que inclui o ambiental, o social, o político, o educaciional, o
cotidiano e o espiritual. Ele se coloca no coração do novo paradigma segundo o
qual cada ser possui valor intrínsceo mas está sempre em relação com tudo,
formando uma imensa rede como aliás o diz exemplarmente a Carta da Terra.
Em outras palavras, trata-se de superar o paradigma da
modernidade. Este coloca o ser humano fora da natureza e acima dela como “seu
mestre e dono (Descartes), imaginando que ela não possui nenhum outro sentido
senão quando posta a serviço do ser humano que pode explorá-la a seu
bel-prazer. Esse paradigma subjaz à tecnociência que tantos benefícios nos
trouxe mas que simultaneamente gestou a atual crise ecológica pela sistemática
pilhagem de seus bens naturais.
E o fez com qual voracidade que ultrapassou os principais
limites intransponíveis (a Sobrecarga da Terra). Uma vez transpostos, colocam
em risco as bases físico-química-energéticas que sutentam a vida (os climas, a
escassez de água, os solos, a erosão da biodiversidade entre outros). É hora de
se fazer um ajuste de contas com a Mãe Terra: ou redifinimos uma nova relação
mais cooperativa para com ela e assim garantimos a nossa sobrevivência ou
podemos conhecer um colapso planetário.
O Papa inteligentemente se deu conta desta possibilidade.
Daí que sua encíclica se dirige a toda a humanidade e não apenas aos cristãos.
Tem como propósito fundamental cobrar um novo estilo de vida e uma verdadeira
“conversão ecológica”. Esta implica uma novo modo de produção e de consumo,
respeitando os ritmos e os limites da natureza também em consideração das
futuras gerações às quais igualmente pertence a Terra. Isso está implícito no
novo paradigma ecológico.
Como temos a ver com um problema global que afeta
indistintamente a todos, todos são convocados a dar a sua contribuição: cada
país, cada instituição, cada saber, cada pessoa e, no caso, cada religião como
o cristianismo.
Em razão desta urgência, o Papa juntamente com a Igreja Ortodoxa instituíu todo o dia 1º de setembro de cada ano como o “Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação”. Assevera claramente que “devemos buscar no nosso rico patrimônio espiritual as motivações que alimentam a paixão pelo cuidado da criação”(Carta do Papa Francisco de 6/08/2015). Observe-se a expressâo “paixão pelo cuidado da criação”. Não se trata de uma reflexão ou algum empenho meramente racional mas de algo mais radical, “uma paixão”. Invoca-se aqui a razão sensível e emocional. É ela e não simplesmente a razão que nos fará tomar decisões, nos impulsionará a agir com paixão e de modo inovador consoante a urgência da atual crise ecológica mundial.
O Papa tem consciência de que o cristianismo (e a Igreja)
não está isento de culpa por termos chegado a esta situação dramática. Durante
séculos pregou-se um Deus sem o mundo, o que propiciou o surgimento de um mundo
sem Deus. Não entrava em nenhuma catequese o mandato divino, claramente
assinalado no segundo capítulo do Genesis, de “cultivar e cuidar o jardim do
Éden” (2,15). Pelo contrário, o conhecido historiador norte-americano Lynn
White Jr ainda em 1967 (The historical Roots of our Ecologic Crisis, em Science
155) acusou o judeo-cristianismo com sua doutrina do domínio do ser humano
sobre a criação como o fator principal da crise ecológica. Exagerou como a
crítica o tem mostrado. Mas de todos os modos, suscitou a questão do estreito
vínculo entre a interpretação comum sobre o senhorio do ser humano sobre todas as
coisas e a devastação da Terra, o que reforçou o projeto de dominação dos
modernos sobre a natureza.
O Papa opera em sua encíclica (nn. 115-121) uma vigorosa
crítica ao antropocentrismo dessa interpretação. Entretanto, na carta de
instauração do dia de oração com humildade suplica a Deus “misericórdia pelos
pecados cometidos contra o mundo em que vivemos”. Volta a referir-se a São
Francisco com seu amor cósmico e respeito pela criação, o veradeiro antecipador
daquilo que devemos viver nos dias atuais.
Cabe concluir com as palavras do grande historiador Arnold
Toynbee:”Para manter a biosfera habitável por mais dois mil anos, nós e nossos
descendentes temos que esquecer o exemplo de Pedro Bernardone, (pai de São
Francisco), grande empresário de tecidos no século XIII e seu bem-estar
material e começar a seguir o modelo de Francisco, seu filho, o maior entre
todos os homens que viveram no Ocidente…Ele é o único ocidental que pode salvar
a Terra” (em ABC, Madrid 19/12/1972, p. 10).
Leonardo Boff é colunista do JB on-line e escreveu Opção
Terra: a solução da Terra não cai do céu, Record 2010.
"Ele fez bem todas as coisas" - 06/09/2015 - Mc 7,31-37
Assista a reflexão de Frei Alvaci Mendes da Luz, OFM
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